Imagine a seguinte situação… Você pega o vírus SARS-COV2, precisa ficar isolado da família e amigos e ainda sofre com surdez total.
O isolamento e a falta de comunicação são as principais reclamações de quem está com Covid-19 e em contato restrito. Mas para Carlos Roberto Ribeiro, de 67 anos, essa barreira foi vencida com o apoio da enfermeira Michelle Estefânio, fluente em libras.
Michelle Estefânio
A agonia de Carlos que tinha dificuldades até para se comunicar com a equipe que estava tratando dele no Hospital São Francisco na Providência de Deus, onde está internado, foi vencida com a ajuda de Michele, que aprendeu a linguagem de libras por causa dos pais que também são deficientes auditivos. “Carlos estava muito assustado por estar sozinho. Ele não conseguia se comunicar com ninguém e isso estava fazendo com que ele se sentisse excluído e muito ansioso. Por meio de libras nós conversamos e eu combinei que voltaria outras vezes. Expliquei sobre o quadro clínico dele e também mostrei os vídeos enviados pela irmã, o que o deixou mais calmo”, lembra Michelle, que é gerente de enfermagem do Hospital.
A irmã de Carlos, Sonia Ribeiro, conta que Michelle foi um anjo durante a internação do irmão, que tem deficiência auditiva desde os 3 anos de idade: “ela conseguiu se comunicar com o Carlos, contribuindo para acalmá-lo e também mostrava para ele vídeos produzidos por parentes”.
A ajuda ao paciente não parou por aí. Percebendo que ele estava agitado e infeliz pela falta de contato com a família, a direção médica do hospital autorizou a transferência dele para uma unidade semi-intensiva, isolada de outros pacientes, onde poderia receber regularmente a visita de Sonia, devidamente paramentada com equipamentos de proteção individual e sempre mantendo distância. “Ele teve o que chamamos de síndrome do confinamento, que é um misto de depressão, ansiedade e desconforto, tudo agravado pela dificuldade de comunicação. Carlos deixou de se alimentar e não estava aceitando o tratamento”, conta Michelle.
“Só tenho a agradecer a Michelle, que teve a sensibilidade de sugerir a transferência dele e a grandiosidade de conseguir uma autorização extraordinária para que eu pudesse visitar meu irmão por 20 minutos três vezes por semana. O resultado foi que ele teve uma melhora significativa no seu emocional e já pôde ser transferido para um quarto, sem o aparato da unidade semi-intensiva. Agradeço muito a Deus por ter permitido ao meu irmão ter sido recebido nessa casa e ter encontrado profissionais tão maravilhosos”, comemora Sonia.
A aproximação entre Michelle e Carlos Roberto fez com que eles descobrissem algo em comum: “Meus pais e o Carlos estudaram juntos no Instituto Nacional de Surdos”, conta a gerente de enfermagem.