Em tempos de dor e dificuldades, é sempre bom contar com uma ‘mão amiga’ para ajudar a superar os obstáculos.
Empatia e uma corrente de solidariedade foi o que Marinete Gonçalves, 38 anos, moradora de Rondônia, encontrou a caminho do Rio de Janeiro, mostrando que o bem sempre volta para quem o pratica.
Marinete com a mãe, no Hospital São Francisco
Moradora do pequeno município de Candeias do Jamari, com 20 mil habitantes e a 20 quilômetros da capital Porto Velho, Marinete não mediu esforços para ajudar parentes infectados pela Covid-19. “Cuidei de mais de 15 pessoas da minha família, entre eles meus irmãos e meu pai. Quando o quadro da minha mãe se agravou e surgiu a possibilidade dela ser transferida para um leito de CTI no Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF), no Rio de Janeiro, não pensei duas vezes: mobilizei todos para conseguir acompanhá-la. A Janaína, minha amiga deu a passagem de ida e nós juntamos dinheiro, um pouquinho de cada um, para hospedagem e alimentação”, lembra ela. Antes de viajar, Marinete fez um voto de fé pela recuperação da mãe e tosou suas longas madeixas, que foram doadas para uma amiga, com suspeita de câncer, vender. “Aquele cabelo deve valer cerca de R$ 2 mil e vai poder ajudá-la a bancar a biópsia que ela precisa fazer”, conta Marinete.
“Eu encontrei muitas pessoas incríveis no Rio de Janeiro. Logo que cheguei, conheci uma psicóloga que também era de Rondônia e me ofereceu para ficar na casa dela, sem nem me conhecer. Passei uma semana com ela, mas era muito longe do hospital onde minha mãe estava e eu gastava muito com a passagem. Acabei alugando um quartinho a 10 minutos do hospital”, recorda ela. Apesar de economizar o dinheiro do transporte, Marinete ainda tinha despesas para seu sustento na capital. Sua mãe, Maria das Graças Gonçalves, ficou 81 dias internada no HSF, sendo 55 no CTI, e foi a última paciente rondoniense transferida para outro estado a voltar à terra natal. “Se não fosse a bondade de tantas pessoas, não sei como teria conseguido. Eu conversava muito com as equipes do hospital, quando ia buscar notícias da minha mãe. Conversei com a coordenadora geral do CTI, a Dra. Graziela Pradella, que obteve da direção do Hospital autorização para que eu pudesse fazer refeições gratuitamente na instituição, uma ajuda enorme”, recorda.
Marinete teve ainda outros ‘anjos’ que a ajudaram: um dia, quando já estava quase sem dinheiro, torcendo pela recuperação da mãe no corredor que dá acesso ao CTI, recebeu um recado: “Me avisaram para ir até a entrada do hospital, onde uma pessoa que me ajudaria. Quando cheguei lá, um rapaz me perguntou o que eu estava precisando. Eu contei rapidamente minha história e disse que precisava de ajuda para pagar o aluguel do quartinho onde eu estava hospedada e ele imediatamente me fez uma doação, valor suficiente para pagar mais de um mês de aluguel. E ele nem me conhecia! Lá no hospital também conheci a dona Sandra, que me deu muito apoio. Ela estava na mesma luta que eu, acompanhando a internação do marido, o Seu Bené, que ficou mais de 4 meses internado”.
No dia 5 de maio, a mãe de Marinete, foi liberada para voltar para casa, em um avião do estado de Rondônia. “Ela deixou o hospital sob aplausos e foi recebida com muita festa em Rondônia. Hoje, ainda sente muitas dores no corpo e dificuldades para andar, consequência da longa internação, e segue recebendo atendimento em casa, mas cercada por amigos e familiares”, diz a agradecida Marinete.