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Serviço de atenção à saúde mental registra aumento de procura durante a pandemia

Emergência psiquiátrica 24h do Hospital São Francisco na Providência de Deus teve aumento de pacientes com quadros depressivos e surtos psicóticos

O impacto da pandemia da Covid-19 na saúde da população mundial foi muito além do mal que a doença em si provoca. O medo de se contaminar e transmitir o vírus para familiares foi o principal sentimento da população durante a pandemia, como aponta uma pesquisa divulgada recentemente pela Sociedade Brasileira de Psiquiatria em parceria com outras instituições brasileiras e do exterior. Outro estudo, desenvolvido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e publicado pela Revista The Lancet revelou que os casos de depressão praticamente dobraram logo no início da pandemia e as ocorrências de ansiedade e estresse aumentaram 80% no período. O que os levantamentos apontaram também foi observado no Hospital São Francisco na Providência de Deus, único hospital geral da cidade a oferecer emergência psiquiátrica 24h, com internação em uma unidade de saúde de alta complexidade.

“Esse impacto foi sentido pelas equipes multidisciplinares que atuam no Polo de Atenção Integral à Saúde Mental Papa Francisco (PAI). Tivemos aumento entre 30 e 40% da demanda de pacientes com transtornos depressivos e/ou ansiosos e também com abertura de quadros psicóticos em pessoas sem histórico psiquiátrico prévio. Fatores estressantes, como as notícias da pandemia, podem contribuir para o “desequilíbrio emocional”, afirma a psiquiatra Lívia Guerra, que coordena o serviço.
Atendimento especializado

O PAI oferece atendimento psiquiátrico e multidisciplinar a pessoas com transtornos mentais e por uso de drogas, em casos em que haja necessidade de internação e cuidados integrais, como quando há ideação suicida com planejamento ou o paciente representa risco para ele próprio ou para outras pessoas. O Polo conta com uma equipe de médicos psiquiatras e um clínico exclusivo para o serviço. Possui ainda psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistente social, nutricionista, educador físico e equipe de enfermagem especializada. “Recebemos pacientes com os mais diversos transtornos mentais: psicóticos como esquizofrênicos, pessoas com transtorno bipolar do humor, transtorno esquizoafetivo, além de transtornos de personalidade como Borderline, transtornos depressivos e/ou ansiosos, pacientes pós-tentativa de suicídio, e damos suporte às famílias que muitas vezes também estão adoecidas e fragilizadas. Atendemos também pessoas com transtorno de uso de substâncias e dependências químicas, inclusive por uso abusivo/nocivo de psicotrópicos”, conta a psiquiatra.
O serviço tem capacidade para internar 75 pacientes, distribuídos por três enfermarias: de crise, feminina e masculina. Como terapia complementar são realizadas atividades em grupo, como oficinas de arte, beleza, exercício físico, alongamento, trabalhos manuais e de bijuteria. As atividades presenciais voltadas para familiares estão suspensas temporariamente em função da pandemia, mas em situações normais são realizadas conversas para acolhimento, suporte e orientação para lidar com a internação e com os cuidados e tratamentos pós-internação. “Com a pandemia, as atividades em grupo precisaram ser redesenhadas e estão sendo desenvolvidas em espaços abertos e com distanciamento entre os pacientes. Esse trabalho de socialização é fundamental para a recuperação deles”, explica a coordenadora do PAI.

Pandemia

Os protocolos de segurança adotados para reduzir a circulação da Covid criaram novas rotinas no PAI. Além da readequação das atividades em grupo para os internos, de forma a garantir o distanciamento seguro entre eles, foi preciso suspender as visitas de familiares a pacientes internados. “Durante 5 meses, as visitas tiveram que ser exclusivamente virtuais. Em agosto/2020 retomamos com visitas presenciais uma vez por semana, durante 30 minutos, com uso de máscara, respeitando o distanciamento. Em novembro/2020 novamente tivemos que suspendê-las devido ao aumento de casos de Covid-19 no Rio de Janeiro. Aguardamos ansiosamente pelo retorno deste contato que é tão importante para a equipe, pacientes e famílias. Além disso, novos pacientes são testados para a Covid-19 antes de serem encaminhados para a enfermaria”, conta a psiquiatra Lívia Guerra.