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Hospital São Francisco realiza Semana de Conscientização à Vida

Em sua quarta edição, evento traz questões relacionadas a doação de órgãos, saúde mental e segurança do paciente

Temas como doação de órgãos, prevenção ao suicídio e segurança do paciente foram discutidos na Semana de Conscientização à Vida, promovida pelo Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF-RJ), nos dia 26 a 28 de setembro. Esta foi a quarta edição do evento que todo ano conta com palestras dos profissionais do HSF e especialistas convidados. Dando início à Semana, o arcebispo do Rio de Janeiro, Orani Tempesta celebrou uma missa em ação de graças aos doadores e pacientes transplantados, uma vez que o serviço de transplantes prestado pelo hospital à pacientes do SUS é uma referência nacional e que já beneficiou 600 pacientes.

Abrindo o ciclo de palestras, as enfermeiras Viviane Solis e Patrícia Lamiz, representantes da OPO Norte, falaram sobre a busca ativa de doadores de órgãos e os principais desafios. “O que a gente quis trazer hoje para os nossos colaboradores foi toda a trajetória da doação de órgãos. Mostrando que a busca ativa é o início de tudo. A gente quis mostrar cada passo do protocolo de morte encefálica, evidenciando como o acolhimento familiar é fundamental nesse processo. E como o colaborador pode trazer esse familiar para ele. Acho que isso é um ponto-chave nessa questão”, destacou Viviane, que também é integrante da Pastoral da Saúde do hospital.

Seguindo a temática de doação de órgãos, Amanda Dutra, plantonista da Sala Vermelha e Rotina Médica do Hospital Estadual Getúlio Vargas, destacou a importância de se ter consciência do protocolo de morte encefálica. “Para gente pensar em doação de órgãos, primeiro é preciso ter um diagnóstico para dar andamento nesse processo. E o protocolo que a gente tem no Brasil é um dos mais rigorosos do mundo, porém necessário para que a gente realmente tenha confiança sobre o diagnóstico de morte encefálica. O Estado oferece esse suporte através da Central de Transplantes para que a gente execute o protocolo de morte encefálica. E acho importante que todas as equipes tenham consciência desse processo, porque é uma coisa que não só é uma notificação compulsória, faz parte da nossa legislação, mas que também otimiza todos os recursos dentro da Unidade de Terapia Intensiva”, declarou a médica.

Para Louise Xavier, estagiária do setor de Psicologia do Polo de Atenção Integral Papa Francisco (PAI), serviço do próprio Hospital, “conhecer como é feito o diagnóstico de morte encefálica, como colocar isso pra família, como lidar com o luto que ela vai estar passando e como poder abordar da melhor maneira possível, deixa a gente um pouco mais preparado e com uma escuta mais afiada para poder entender o que vai ser melhor para aquela família e como que a gente, enquanto equipe, pode melhorar esse processo de luto para que a experiência não seja muito traumática”, sinalizou.

Dentro da temática, ainda tiveram as palestras ‘O Processo de Luto x Doação de Órgãos’, com a enfermeira Mayla Cardoso, especialista em doação, captação e transplante de órgãos pelo Hospital Israelita Albert Einstein; ‘Manutenção de Potencial Doador’, com o enfermeiro Márcio Gomes, especialista regional de transplante – Contatti; ‘Processo de Captação Do Órgão’, com Fabrício Oliveira, coordenador de Atenção Especializada e Gestão de Tecnologia da Secretaria de Estado de Saúde/RJ, e ‘Acolhimento Familiar x Entrevista Familiar’, com Juliana Aguiar, especialista em doação, captação e transplante de órgãos pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

Para contemplar o setembro amarelo, a coordenadora de Segurança Pública e Saúde do Trabalhador do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES), Meire Christine Souza trouxe a questão da saúde mental dos agentes de segurança pública. “Dentro do contexto de prevenção do suicídio, a palavra ‘conscientização à vida’ traz um alerta: falar sobre o tipo de ambiente de trabalho que está sendo nocivo à saúde e que impacto isso pode trazer a integridade física e mental. Pensando e identificando isso, é preciso pensar em uma política de promoção de saúde e segurança do trabalho, para esse tipo de profissional” destacou.

Com o tema ‘Da Vulnerabilidade Social à Vulnerabilidade Psíquica: Uma Proposta de Cuidado em Saúde Mental’, as palestrantes Grazielle Nogueira e Gabriella Pacífico representantes da Instituição Favelaterapia, enfatizaram a saúde mental das favelas e das periferias do Rio de Janeiro. “Falar sobre esse tema é falar um pouco sobre as violências psíquicas que sofremos. E também nos dá a oportunidade de refletir como a sociedade lida com a saúde mental das pessoas que estão sendo constantemente vulnerabilizadas. E aí entende-se a vulnerabilidade como ausência de coisas, seja ausência de expressão, de identidade, e as questões do racismo de gênero, da sexualidade… Esses contextos e vulnerabilidades nos atravessam e faz com que a gente se expresse de uma forma negativa ou positiva no mundo. Por isso é importante a gente trazer essas questões e promover esse exercício de enxergar o outro e tratar o indivíduo com mais empatia, respeito e amor”, sinalizou.

Ainda dentro desse tema, a clínico geral Vivian Borgert, da Instituição Favelaterapia, fez uma apresentação sobre a vulnerabilidade psíquica e social das pessoas LGBTQIAPN+. “Dentro da sociedade em que vivemos, ainda há dificuldades de entender as pessoas LGBTQIAPN+ e eu quis trazer uma abordagem com relação aos direitos desta população como pessoas diferentes, mas que ao mesmo tempo têm que ser respeitadas como indivíduos. E esses indivíduos têm suas singularidades e particularidades em relação à saúde mental, porque existem estressores que acabam gerando depressão, ansiedade, transtorno do pânico, transtornos alimentares, tentativas de suicídio, entre outros. Os dados mostram a invisibilidade dessas pessoas no acesso à justiça, a proteção dos seus direitos, o atendimento à saúde e como essas questões são subestimadas. É preciso conversar, entender e atender todas as pessoas”.

A coordenadora do serviço de Psicologia, Caroline Oertel, alegou que todas palestras do segundo dia se complementam, uma vez que falam sobre situações de agressividade, violência social, de um contexto de vulnerabilidade e como isso atravessa a população. “A gente sabe que dentro desses contextos a gente também vive isso dentro da nossa realidade, seja do hospital, com o nosso público interno, seja com o nosso público externo, com as pessoas que frequentam o nosso hospital. E para a gente é muito importante trazer essa reflexão, essa consciência para os nossos colaboradores, para que a gente consiga aproximá-los dessa realidade.”

Outros assuntos também discutidos foram ‘Tecnologia e Suicídio’, com o psicanalista e historiador Diego Nunes, editor-chefe da Revista Círculo de Giz, e ‘Suicídio e Dependência Química: Um Diálogo Multidisciplinar’, com a equipe multidisciplinar do PAI/HSF.

E abarcando o tema segurança do paciente, o diretor Regional da MedSênior-RJ, Carlos Lobbé: “A instituição precisa entregar aquilo que prometeu. A entrega é o paciente sair da instituição melhor do que entrou ou curado. Qualquer coisa diferente disso, nós falhamos enquanto instituição. E se a gente falhar, nós somos considerados incompetentes. Se você realiza isso com protocolo, você uniformiza as entregas e melhora todo o fluxo porque se criou um processo. E toda vez que você visita esse processo você faz com que ele seja mais seguro para seu paciente. Essa padronização dos procedimentos diminui a mortalidade. Por isso, o profissional precisa estudar e conhecer o padrão de serviço mais seguro para o paciente”, enfatizou Lobbé, que é professor do MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Com a palestra ‘Segurança do Paciente como Estratégia Institucional’, a fisioterapeuta Roberta Privitera Torquato, diretora da Qualyserv Consultoria, destacou os quatro eixos para a segurança do paciente: os protocolos gerenciados, as políticas e os registros da instituição e mais as metas internacionais de segurança do paciente. “Cada um desses pilares faz com que a gente trabalhe de uma forma mais organizada com o objetivo de alcançar um bom resultado. Mesmo conhecendo todas as metas de segurança, mesmo realizando treinamento de tempos em tempos, ainda assim são cometidos alguns erros. E isso é extremamente prejudicial ao paciente. Por isso é importante a gente falar sobre o assunto e estar atento aos processos de assistência. O mundo inteiro investe nas seis metas internacionais de segurança e existe um plano de ação global, que começou em 2021 e vai até 2030, para que a gente consiga reduzir todos os eventos relacionados às falhas do processo. É preciso que todo mundo esteja atento a isso e colabore no sentido de diminuir as falhas relacionadas à assistência do paciente.”

Trazendo a questão da participação da família na segurança do paciente, Glaucia Cerqueira, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Quinta D’or, lembrou que a segurança é tornar o paciente e o familiar como membro da equipe de assistência. “Uma vez que você coloca os dois como membro da equipe, há maior adesão ao tratamento, pessoas com mais clareza ao que está sendo feito. Com isso, temos pessoas menos demandantes, mais esclarecidas e que vão colaborar melhor no cuidado deste paciente ou que vão ajudar a equipe quando algo diferente acontecer do que foi previsto”, defendeu.

As enfermeiras de qualidade do HSF, Thatiana de Freitas e Luana da Mata Corrêa, lembraram que o objetivo do evento foi fazer a sensibilização de todos os colaboradores, independente da área. “As pessoas focam muito na parte assistencial, mas toda equipe multidisciplinar de apoio, seja pessoal da higiene, manutenção, nutrição, recepção, entre outros, precisam estar incluída nessa sensibilização sistêmica. Todos são responsáveis pela segurança do paciente. Cada um precisa entender que é responsável pela entrega final do paciente”, destacou Thatiana. “É importante reforçar com os colaboradores o papel da família dentro do processo de cuidado, que ela não está ali para se intrometer no trabalho, ela está ajudando na prevenção de acidentes”, lembrou Luana.

‘A Importância do Cuidado Seguro no Processo de Internação: O Que o Paciente Leva de Experiência sobre a Segurança do Paciente’ e “’A Inclusão do Paciente no Cuidado’, foram as palestras ministradas, respectivamente, pela psicóloga e neuropsicóloga Merilin Albuquerque e Gabriel Farias, consultor em Qualidade e Gestor Médico do Hospital e Clínica São Gonçalo. O encerramento do evento foi um momento de reflexão com a mesa redonda multiprofissional ‘Amplifique a Voz do Paciente’.

Para o diretor geral do HSF, Frei Nicolau Castro, ao promover debates de tamanha relevância para profissionais da saúde, “o Hospital São Francisco na Providência de Deus mostra o quanto alia cuidado humanizado com processos assistenciais e administrativos de excelência que colocam o paciente no centro do cuidado”.