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Abraço virtual é uma das ações para acolher as vítimas do novo coronavírus

Como as equipes do Hospital São Francisco na Providência de Deus estão se adaptando aos novos protocolos de assistência sem perder o foco na humanização

“A falta do abraço, do contato faz muita diferença. O abraço é fundamental”.

O desabafo é da assistente social Claudia Calvo, que se dedica, no dia a dia a prestar uma atenção aos pacientes internados e seus familiares no Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF). “Eu faço um controle diário dos pacientes internados e os acompanho de perto, mas, no momento, esse trabalho precisa ser feito de outra forma. Eu sinto falta de dar o acolhimento que gostaria. Como os pacientes de Covid-19 precisam ficar em isolamento, eu tenho me aproximado mais das famílias, que ficam muito aflitas. No final de cada conversa, peço que a pessoa se sinta abraçada por mim. O abraço virtual e uma palavra amiga, de força e esperança, é o que podemos fazer nesse momento”, conta Claudia.

Assim como ocorreu com o trabalho da assistente social, a adoção de protocolos de segurança com o treinamento de equipes para o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), mudou a rotina no HSF, um dos maiores hospitais gerais do Rio de Janeiro. De acordo com Patricia Morgado, coordenadora da Emergência do HSF, as mudanças já são notadas na chegada dos pacientes à unidade. “Utilizamos os EPIs apropriados para resguardar nossa equipe frente à pandemia que estamos vivendo, mas mantemos a nossa filosofia de acolhimento e humanização”, afirma.

Humanizar o cuidado tem sido um grande desafio, de acordo com a gerente de enfermagem, Patrícia Leite. “Criamos fluxos com as equipes de ponta para que os pacientes sejam atendidos com toda a atenção que precisam, mas sem perder o foco na questão da segurança. Os pacientes de Covid-19 precisam de um olhar especial, até porque estão isolados, sem poder ter contato com as famílias. Estamos trabalhando com uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, enfermeiros, psicólogas e assistente social, que tem se desdobrado para levar aos pacientes notícias, recados, vídeos e áudios dos familiares. Isso agora faz parte da nossa rotina, uma vez que as visitas estão temporariamente suspensas. Por outro lado, também levamos recados dos pacientes para seus familiares que, impedidos de estar pessoalmente com seus entes queridos, recebem o suporte da nossa equipe, além, claro, das atualizações diárias do quadro clínico do paciente”, revela.

Cuidado humanizado

O surgimento de novas necessidades no funcionamento do HSF exigiu que fossem realizados treinamentos com equipes médicas e de enfermagem. “Focamos no uso correto e consciente de EPIs, paramentação e desaparamentação, cuidados com os pacientes com suspeita de Covid-19 e o mais importante: a atenção a pacientes graves, durante um atendimento de intubação, por exemplo”, ressalta Patricia Morgado. “Também mudamos os horários de visitas ao CTI e andares, com intervalos de tempo mais curtos, priorizando apenas um visitante por paciente. Durante esse período, os acompanhantes dos pacientes não podem permanecer nos quartos e nem pernoitar no hospital, por questão de segurança. Quanto aos pacientes que dão entrada na Emergência com suspeita de Covid-19, são imediatamente encaminhados para um leito de isolamento, onde não podem ser acompanhados.”, explica a médica.
Mas não apenas pacientes e familiares precisam de cuidados especiais. Os profissionais de enfermagem do Hospital também merecem atenção especial, como lembra a gerente de enfermagem, Patrícia Leite: “O corpo de enfermagem fica diretamente ligado aos pacientes, em um contato muito próximo. São os heróis que estão na ponta da assistência. Então, precisam de um suporte. Nós temos aqui o programa ‘Cuidando de quem cuida’, uma iniciativa do setor de Recursos Humanos e que reúne diversos departamentos, com o objetivo de garantir esse suporte. Precisamos manter nossa equipe forte para que possamos passar por esse momento delicado unidos.”

O trabalho da Pastoral da Saúde do HSF também foi afetado pelos novos protocolos criados para o enfrentamento da Covid-19. Coordenada pela Irmã Alcenia da Paz, da congregação das Irmãs de Caridade de Santa Cruz, a Pastoral é dedicada a um contato mais próximo com pacientes e familiares. “Temos o papel da escuta e de levar uma mensagem de conforto e consolo a quem precisa. Às vezes, nem é necessário falar, apenas estar presente, ser um irmão ou irmã”, frisa ela. Devido às regras de segurança atuais, os integrantes da Pastoral estão fazendo contato com os pacientes internados por telefone, sempre transmitindo mensagens de esperança. “Também estamos comprometidos em nos colocar em um momento de oração pelos pacientes e pelo mundo”, conta. E ela arremata com uma linda mensagem de esperança dirigida a todos: “Prezado irmão, prezada irmã, Jesus disse em Jó 15, 4: fiquem unidos a mim e eu ficarei unido a vocês. Tenham a certeza de que Ele está conosco neste momento forte de tempestade, nos sustentando com sua mão. Quando a tempestade passar, vamos ter muitos motivos para louvar e dar graças. Deus está conosco, mesmo que pareça que estamos sozinhos. Coragem, não estamos sozinhos!”

PAI Papa Francisco

No Polo de Atenção Integral à Saúde Mental (PAI) Papa Francisco, o trabalho também precisou ser reestruturado, como conta a coordenadora da psicologia do HSF, Caroline Oertel. “Costumávamos realizar atividades em grupo com os pacientes internados, mas tivemos que adaptá-las, de forma a evitar contato físico”, explica. Ela ressalta que uma das mudanças mais marcantes no período foi o aparecimento de uma nova demanda de atendimento. “Com a suspensão, ainda que temporária das visitas, tivemos que ressignificar o encontro do paciente e sua família. As ligações semanais que os pacientes fazem para os familiares estão feitas por vídeo, para permitir um contato mais próximo. Além disso, as equipes de psicologia e de psiquiatria também têm feito ligações para os núcleos familiares que nesse momento se encontram isolados, em casa, e necessitando de mais acolhimento”, diz ela. “Nossa principal ação é orientar para que as pessoas saibam lidar com esse sentimento de ansiedade e de medo que tem sido uma constante entre os familiares dos pacientes internados”, ressalta Caroline.

Informação é prevenção

O HSF destinou andares inteiros e CTIs para receber casos suspeitos e confirmados de Covid-19. Para informar os pacientes recém-chegados à Emergência sobre a gravidade e os cuidados com a transmissão do novo coronavírus, foram instalados banners informativos na Emergência. Além disso, os pacientes recebem, na admissão ao hospital, folhetos com informações sobre diagnóstico, tratamento e prevenção do novo coronavírus.
Um comitê de enfrentamento ao Covid-19, formado por representantes dos setores da educação continuada, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e líderes de equipe, foi criado para criar novos protocolos de assistência, além de orientar colaboradores de todos os setores do HSF: médicos, corpo de enfermagem, pessoal da limpeza, do apoio nutricional e fisioterapeutas dentre outros. “Essas orientações são fundamentais para essas equipes multiprofissionais que estão no dia a dia atuando nos setores que têm os pacientes suspeitos e confirmados com Covid-19. É muito importante passar informações corretas e tranquilizar a equipe, que fica um pouco aflita em um momento como o que passamos. Esse esforço é no sentido de esclarecer as dúvidas e prestar o suporte psicológico necessário”, esclarece Patrícia Leite.
A coordenadora da Emergência destaca que a informação tem sido uma aliada contra a doença. “Trocamos e-mails diariamente, com atualizações e sugestões de leituras de publicações nacionais e internacionais, sempre com o objetivo de melhorar o atendimento pela equipe clínica”, conta Patricia Morgado.
Reforço ao SUS
O HSF se une a três grandes empresas do setor privado de saúde: UnitedHealth Group Brasil (Amil), Rede D’Or e Rede Ímpar e à Secretaria Estadual de Saúde para abrir 108 novos leitos para o tratamento de Covid-19, para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Desde as primeiras notícias da pandemia começamos a estudar uma forma de viabilizar o atendimento aos pacientes do SUS. Essa é uma vocação do HSF e, por meio dessa parceria, oferecemos nossa estrutura para receber pacientes em 108 novos leitos, sendo 80 de internação e 28 de terapia intensiva”, anuncia o diretor geral do HSF, Frei Paulo Batista.
Os novos leitos estarão distribuídos nos andares 5, 6, 9, 10 e 11, que estavam desativados e onde, anteriormente, haviam funcionado quartos de internação e três centros de terapia intensiva. O consórcio está investindo recursos para a adequação das instalações e irá ceder equipamentos como ventiladores mecânicos, monitores cardíacos, entre outros, além de equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas cirúrgicas e medicamentos. As empresas privadas também serão responsáveis pelo capital necessário para a compra de insumos e despesas com pessoal, que serão gerenciadas pelo HSF.