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50 anos do primeiro transplante de coração no Brasil

Hélio Ferreira de Paiva Junior, cardiologista do HSF, fala sobre os avanços e desafios para o procedimento

Neste sábado (26), comemora-se os 50 anos de um marco na história da medicina brasileira: o primeiro transplante de coração realizado no país. Apenas seis meses após o transplante realizado pelo professor Christian N. Barnard, na África do Sul, classificado como o primeiro procedimento deste gênero no mundo, a equipe do Dr. Euryclides Zerbini realizava, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, realizou a cirurgia em um jovem de 23 anos com insuficiência cardíaca. O paciente sobreviveu 27 dias após o transplante.

O cardiologista Hélio Ferreira de Paiva Junior, diretor da Voticor, Serviço de Cardiologia do Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF), que foi aluno e atuou na equipe do Dr. Zerbini explica que há duas fases do transplante de coração. “A primeira aconteceu entre o final dos anos 60 e início dos 70, onde houve rejeição ao órgão transplantando por conta das drogas que regularam o pós-cirúrgico que não serem eficientes. Nos anos 80, surgiu a ciclosporina, medicamento contra a rejeição, o que melhorou o pós-operatório dos pacientes e iniciou a segunda fase desse tipo transplante”, relembra.

Detalhe interessante é que a técnica cirúrgica permanece a mesma desde o primeiro procedimento. Os avanços e evoluções do transplante se concentram, principalmente, nas drogas que combatem a rejeição ao órgão, afirma o cardiologista. “Hoje em dia, temos também os corações artificiais que são uma ponte para o transplante definitivo”, destaca o especialista.

Dia a dia com o mestre

50_anos_transplante_coracao_brasil_cardiologista_helioNa convivência de duas décadas com o professor Zerbini na Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Hélio destaca: “O professor tinha uma frase que dizia que nada vence ao trabalho. Trabalhei vários anos com ele e nunca o vi doente ou desanimado. Ele faleceu aos 82 anos e um mês antes tinha operado uma paciente”.

O cardiologista lembra das dificuldades de outrora. “Naquela época, era nossa responsabilidade captar o órgão do doador, arcando também com os custos de transporte. Com o tempo, fundamos o SPTX, que reunia as equipes da Beneficência Portuguesa, Instituto do Coração (Incor), Hospital do Coração (HCor) e da faculdade de Medicina do Hospital São Paulo na busca de órgãos e, posteriormente, a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), que evoluiu até a fila única que temos hoje em dia”, conta.

Dois casos foram marcantes na vida do Dr. Hélio. “Em junho de 85, fizemos o primeiro transplante em um paciente com doença de chagas no mundo e foi um sucesso. O paciente viveu por 28 anos após o procedimento, em boas condições. E temos um paciente transplantado há 32 anos, se não me engano é o transplantado mais antigo do mundo. Ele chegou para nós com 15 anos de idade, muito magro e com muita sarna. Tivemos que fazer um tratamento antes da cirurgia, que foi bem sucedida. O transplante durou 12 anos. Devido a um quadro de insuficiência cardíaca, o paciente precisou passar por outro procedimento e está vivo até hoje”, celebra.

Atualmente, cerca de 300 pessoas estão na fila por um transplante de coração, segundo a ABTO. “Em geral, a expectativa de vida de um paciente que necessita de um órgão é de seis meses. Precisamos dar atenção aos cuidados que o possível doador demanda para que o órgão seja aproveitado. Mesmo sendo um paciente com morte cerebral, é preciso estar atento à pressão e volume do sangue, ao uso de drogas no órgão, entre outros cuidados”, alerta Dr. Hélio Paiva Júnior.